Os cavalinhos de Sardenha
Post número 283
Publicado em 23/03/2021
Foto de capa: impresso da época com detalhes sobre os cavalinhos de Sardenha.
Em 1819 o Reino de Sardenha emitiu peças filatélicas completamente únicas na história: os famosos cavalinhos.
História
Mas antes de entrarmos nas características dessas peças, é interessante falarmos sobre o contexto em que elas foram emitidas. Em 1818 foi instituído o monopólio do estado sobre todos os serviços de correios. Essa lei passava a permitir entregas feitas por mensageiros ou serviços privados somente se essas cartas pagassem a taxa de imposto sobre elas.
No entanto, esse processo se mostrava extremamente ineficiente, pois os serviços privados eram contratados exatamente nos locais ou ocasiões em que seria difícil se deslocar até uma agência postal, lembrando que elas estavam mais concentradas nas regiões mais populosas e bem menos pelo interior.
E foi exatamente para resolver esse problema que nasceram os cavalinhos. Eles eram marcas produzidas em folhas de forma que as pessoas pudessem comprar elas de forma antecipada e ir utilizando conforme a necessidade, ou seja, são bem similares aos inteiros postais que iriam surgir juntamente com o selos há pouco mais de vinte anos depois no Reino Unido.
Ao meu ver, eles só não podem ser chamados de inteiros postais porque a taxa não era em si o porte (o qual seria pago ao mensageiro privado), mas sim um imposto, desta forma, vemos que essas peças também se assemelham aos selos fiscais ou os selos de sobretaxa postal que viriam aparecer ainda mais tarde na história postal.
Características
O desenho traz um gênio galopando sobre um cavalo, uma imagem bastante interessante no sentido alegórico. O gênio era uma figura clássica tocando a tradicional corneta de correios, e o cavalo, simbolizava o método de transporte mais rápido da época, vemos desta forma, como foram mesclados um símbolo clássico e um até então moderno.
Foram produzidos três valores diferentes: o de 15 centesimi para cartas circuladas em até 37 km, 25 centesimi para até 86 km e 50 centesimi para além de 86 km, desde que o destinatário fosse dentro do mesmo país. Os exemplares de 15c e 25c tinham o formato circular, enquanto que o de 50c teve o formato octogonal.
Emissões
Primeira emissão
A primeira emissão começou a circular em 1° de janeiro de 1819. Esta emissão foi impressa pela aplicação nas folhas à mão em cor azul, o papel media 25 x 38 centímetros e pode variar muito em função da tonalidade de cor ou pela presença ou não de filigrana ou marca do fabricante. No total foram produzidos 90 mil folhas de 15c, 20 mil de 25c e apenas 1 mil de 50c.
cavalinho azul de 15 centesimi
cavalinho azul de 25 centesimi
cavalinho azul de 50 centesimi
Segunda emissão
A segunda emissão começou a circular um ano depois, em 1° de janeiro de 1820. Esta emissão se diferencia por trazer a impressão a seco e por colocar pérolas na moldura exterior do desenho. O papel utilizado foi sempre uniforme, tendo sido sendo encomendado em Turim. Ele media 26 x 40 centímetros e trazia a filigrana de uma águia com a legenda "Direzione Generale Delle Regie Poste" cercada por uma moldura grega. Foram produzidos 345 mil de 15c, 100 mil de 25c e apenas 5 mil de 50c.
cavalinho em relevo de 15 centesimi
cavalinho em relevo de 25 centesimi
cavalinho em relevo de 50 centesimi
O fim dos cavalinhos
As folhas continuaram a ser usadas até 1836, ano em que foram retiradas de circulação. Com a contínua expansão dos correios - os quais iam se capilarizando até às regiões mais afastadas - e a consequente perda de espaço das entregas privadas, esse método de utilização dos cavalinhos foi ficando cada vez menor. Em 1851 os selos sardos começariam a ser emitidos, colocando fim à todo tipo de cartas pré-filatélicas.
É provável que as folhas novas restantes tenham sido usadas no dia a dia da administração e as matrizes originais tenham caído em mãos de pessoas que produziram falsificações ao aplicar os carimbos sobre cartas já circuladas.
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